Bem-vindos


a este vosso novo Blog, tratem-no bem ou mal conforme merecer, mas por favor reajam, participem. Iniciá-lo-emos com a publicação de excertos de um manuscrito original já publicado na Zéfiro editora:

MEMÓRIAS DE UM PSICANALISTA
José Carlos DIAS CORDEIRO


Deixe-me dizer-lhe o que alguém me confidenciou:

... eu tenho tudo na vida mas falta-me a alegria e a paixão de viver.


que pedras terei de mover no tabuleiro do meu dia-a-dia para conseguir surpreender-me de novo, reconciliar-me comigo, com os outros e viver?


Esta é uma questão que o leitor aprenderá a responder. E fá-lo-á com a ajuda de um jovem fascinado pela vida e de seu avô, um psicanalista interessado em escutar palavras, silêncios, dúvidas que todos temos.

Este livro vive de duas experiências:

  • as memórias de um psicanalista

  • a volúpia, única, de pessoas como você conseguirem resgatar-se do fundo de si mesmas e renascerem para a VIDA.

01 junho 2009

3. Habla con Ella



"Bachiana nº5" de Hector Villasboas



É curioso, caro leitor, recordar a propósito o filme Habla con ella, em Português Fala com ela, do realizador Pedro Almodóvar:

Duas jovens mulheres dão entrada em coma numa clínica. Uma, bailarina, após grave atropelamento, a outra, toureira afamada, colhida numa faena. Qualquer delas recebe diariamente a presença atenta de um homem, uma, seu noivo, a outra, seu enfermeiro. O noivo olha-a, calado, distante, só. O enfermeiro conta-lhe histórias do que lhe acontecera naquele dia, como está o tempo, a vida lá fora, partilha com ela o calor das suas mãos ao penteá-la, secá-la, massajá-la. Por um segundo que fosse, o primeiro jamais acreditou que sua noiva o ouvisse, ao contrário do enfermeiro, que sempre se sentiu escutado. Longos foram os períodos em coma, longos os silêncios e ausência afectiva do noivo que acabou por conformar-se com a partida de sua noiva. Enquanto a outra mulher começou lentamente a responder ao calor da voz humana e das mãos, deixando-se engravidar pela vida. Afirmar que uma delas teria morrido pela ausência de comunicação e que a outra recuperara porque jamais o seu interlocutor duvidara que ela o escutava, arrisca-se no mínimo a ser considerada uma afirmação não científica. Mas vale a pena perguntar: quem somos nós, humanos, para duvidarmos dos insondáveis mistérios e poderes do afecto e da vida?

E a prova é que as pessoas em coma recordam, ao despertar, o calor da presença, da voz, das mãos, dos beijos de quantos sempre acreditaram que elas regressariam... E muitas delas regressaram.


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