Bem-vindos


a este vosso novo Blog, tratem-no bem ou mal conforme merecer, mas por favor reajam, participem. Iniciá-lo-emos com a publicação de excertos de um manuscrito original já publicado na Zéfiro editora:

MEMÓRIAS DE UM PSICANALISTA
José Carlos DIAS CORDEIRO


Deixe-me dizer-lhe o que alguém me confidenciou:

... eu tenho tudo na vida mas falta-me a alegria e a paixão de viver.


que pedras terei de mover no tabuleiro do meu dia-a-dia para conseguir surpreender-me de novo, reconciliar-me comigo, com os outros e viver?


Esta é uma questão que o leitor aprenderá a responder. E fá-lo-á com a ajuda de um jovem fascinado pela vida e de seu avô, um psicanalista interessado em escutar palavras, silêncios, dúvidas que todos temos.

Este livro vive de duas experiências:

  • as memórias de um psicanalista

  • a volúpia, única, de pessoas como você conseguirem resgatar-se do fundo de si mesmas e renascerem para a VIDA.

24 setembro 2009

MORTE/AMOR



"Coro dos Escravos hebreus", Ópera de Nabuco de Verdi

Diz o corcel: Eu Sou a Morte

Responde-lhe o cavaleiro: Eu Sou o Amor

(Antero de Quental)



Morte / Amor, duas metades da pessoa que todos somos.


Tereis de desbastar, caro leitor, o potro selvagem com que nascestes.


Sublimando, transformando em vida o risco potencial de morte dos instintos agressivo e sexual que todos trazemos em nós.

46. Magia do espaço de ilusão mãe-bebé-pai



"Adeste Fidelis", Autor do Rei D. João IV de Portugal (Il Divo)

- ...já devorei as folhas que me deixaste, avô, e não sei se percebi tudo.


- Se percebeste ou não o que quis dizer não é o essencial. O importante são as ideias, as dúvidas, tudo o que te vem à cabeça a partir do que suscita em ti o que eu disse ou não disse. Tudo o que cresce em ti ao ler-me, por que essa é a vibração criativa da tua sensibilidade e da tua inteligência.


- Isso é tudo muito bonito mas estarás de acordo, avô, que é um pouco confuso...


- O recém-nascido contém toda uma série de potencialidades e competências por desenvolver, jamais falará se não falarmos com ela, apesar de ter no seu código genético, potencialmente, a capacidade de amar e de falar. Tu próprio, já não te lembras, mas foi assim que nasceste para a vida.


- Só não percebo muito bem por que sou tão diferente do João e da Rita. Apesar de termos os três os mesmos pais e avós.


- Deixa-me dar-te um exemplo que tu conheces. Sempre gostaste muito da música de Natal Adeste Fidelis, que tu conheces bem, do nosso rei D. João IV. Aqui está um bom exemplo de um programa que está escrito na partitura, com as notas todas marcadas, mas de cada vez que tu a ouves é um Adeste Fidelis diferente, por que diferente é a sonoridade e a sensibilidade sempre que novos músicos lhe dão vida.

Uma partitura musical pode ser muito bela, como a voz do soprano e a sua capacidade técnica também, mas a alquimia dos sons sublimes só será consumada, como no amor, pelo desejo das pessoas. É o afecto que dá sentido a tudo.

E agora já podes contar a história do Adeste Fidelis aos teus amigos.

21 setembro 2009

45. Vendedores de sonhos...



Sinfonia nº 6, Pastoral 5º Mov., de Beethovan

Nunca me ouviste dizer que era fácil viajar ao fundo de ti próprio. Tens vindo a fazer-te à vida, mas não precisas de sextante para navegar, necessitas apenas de um espelho, veres-te reflectido para poderes dizer “Sei que não vou por aí!”.


Já vais aprendendo que é do acumular de nutrientes do corpo e da alma, como o Bem e o Belo, que as pessoas encontram o sentido da vida. O teu dia-a-dia, não é convencer ninguém, é dar um testemunho, é ser e estar bem contigo e com os outros. É pela comunicação em vasos comunicantes que podes, cada vez mais, partilhar o sentido da tua vida. E sabes bem que muita gente, e eu próprio, tem já beneficiado da paz que tem vindo a encontrar em ti.


- Como eu tenho encontrado em vocês...

17 setembro 2009

44. Caça às bruxas



"Concerto nº4 , Branderberg" de Bach

O cinema deu-nos exemplos de Cavaleiros da Liberdade. É o caso do Testa de Ferro, de Martin Ritt, protagonizado por Woody Allen e, sobretudo, de Spartacus, produzido e interpretado por Kirk Douglas. Como te lembrarás Spartacus é um gladiador vencedor que teve a seus pés, à sua mercê, outro homem, tão escravo como ele. Em vez de o trespassar, Spartacus volta-se para a tribuna e joga a lança contra o imperador, o verdadeiro inimigo de todos os escravos.


Já agora deixa-me partilhar contigo uma associação livre sobre a verticalidade dos homens, ou a ausência dela. O autor do guião do filme Spartacus, Dalton Trumbo, fazia parte da lista negra de Joseph McCarthy. Kirk Douglas, pergunta, hesitante, a Stanley Kubrik, realizador, como resolver aquele problema. É “simples” responde-lhe Kubrick sem hesitar, “assino eu o guião”. Aqui estão dois homens de estatura moral completamente diferente:


Stanley Kubrik que se oferece sem pestanejar para assinar o guião em substituição do verdadeiro guionista e Kirk Douglas, esse homem de três metros de altura, que não hesitou em inscrever na ficha técnica do filme o nome do verdadeiro autor do guião e com isso desafiar desassombradamente o fanático e acéfalo establishment macartista (século XX, América do Norte). Dando assim razão ao poeta:



...há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não

(Manuel Alegre)

14 setembro 2009

43. Dilacerante ambivalência


"Bohéme 03" de Pucinni

Recorda-se que, apesar da imensa alegria de ver os bebés fora de si, se sentiu mais vazia por dentro. Foram para si, como para todas as mulheres, momentos de grande contradição: confrontar-se com a dilacerante ambivalência entre o desejo de cumprir a sua missão de mãe separando-se de suas filhas e o desejo regressivo de mantê-las fundidas em si.

Dizer-me que não consegue falar, é como se receasse soltar-se. O que acontece é que tem estado formatada, pela educação, os hábitos, e tem dificuldade em soltar a criatividade. O pensamento é uma trave estruturante, mas não é a força motriz da vida. É no afecto, na auto-estima que pode reencontrar o desejo de viver em paz, consigo e com os outros. Planando acima da turbulência e das nuvens, como quando esquia ao sol.

Recorda-se que, quando lhe perguntava se merecia ter uma vida boa, dizia-me sempre que não mas hoje já vai respondendo, sorridente, que merece.

10 setembro 2009

42. Uma história de encantar



"Sinfonia Espanhola" de Edouard Lalo

Era uma vez um homem que vivia completamente desencantado e dizia para um amigo “não me apetece fazer nada, absolutamente nada, estou acabado!”. O amigo, repousando longamente nele o seu olhar, disse-lhe para mover uma das pedras de um montículo que estava no chão ao mesmo tempo que lhe tocava no ombro com a varinha mágica do afecto.

Bastou aquele homem sentir o afecto e a confiança nele depositada para ser capaz de mover pedras na sua vida.

Recorda-se, caro leitor, de o físico grego Arquimedes (Século II a.C.) ter um dia afirmado “ dêem-me um ponto de apoio e eu levantarei o Mundo”. O ponto de apoio para si e para todos nós é o afecto, que move tudo na vida. É a quente, no calor do afecto, que o impossível se dissipa.

07 setembro 2009

40. Medram nas Brumas



"Nocturno" de Choupin

A leitora está a sofrer de um stress pós-traumático desde o falecimento de seu irmão num acidente. Ainda hoje não se conforma com o seu desaparecimento inesperado. Será provavelmente por isso que tem actualmente tanta dificuldade em separar-se da sua única filha.

Sentir que tudo teria acontecido por não ter protegido o seu
mais novo e único irmão, é compreensível. Mas pode levá-la a penitenciar-se, desmedidamente, pelos fantasmas que medram nas brumas dos dias cinzentos, que todos temos. Por que motivo há-de carregar aos ombros os pecados da Humanidade?...

Isso não resolve nada. O que pode fazer é varrer tudo quanto é
supérfluo, negativo. Mas atenção, varrer para debaixo do tapete é manter dentro de si tudo quanto tem que deitar fora. Parece teoria, mas não é. Estamos a falar da necessidade de separar o trigo do joio, jogar fora o que não presta e mover, no tabuleiro da sua vida, as pedras ganhadoras.

O percurso que já palmilhou tem-lhe ensinado que a primeira
prioridade é o amor, a tolerância. Mas será que acarinha suficientemente a partilha com os seus familiares e amigos? Pense nisso.

03 setembro 2009

39. Believing e belonging



"Concerto n1 para violino" de Max Bruch (Gil Shaham)

- De todo, avô. E se eu não perceber bem tu explicas-me, ou não?

- Claro. Então ficas a saber que para o Criacionismo, tudo – o Mundo, as pessoas, a Natureza – terá resultado de um acto do Criador, num dado momento, um deus, Ele próprio o alfa e o ómega, isto é, o princípio e o fim de tudo.

Pelo contrário, para o Evolucionismo desde Darwin tudo
resultaria de uma evolução das espécies e da selecção natural, desde as formas mais elementares de vida. A base da vida resultaria do agrupamento de partículas, átomos, moléculas, em células e tecidos. Isto num processo de evolução da matéria orgânica, com multiplicação das células, dos tecidos, dos organismos e com evolução qualitativa,
desde a célula indiferenciada às mais diferenciadas, como por exemplo, as células nervosas.

O Evolucionismo baseia-se na evolução biológica de matéria orgânica a partir do jogo recíproco, interacção ou feedback (retro-alimentação) entre matéria viva, como as células, os tecidos e o meio físico, químico e inorgânico circundante.

É natural que estes debates entre os Criacionistas e os
Evolucionistas sejam difíceis de compreender. Chegou-se mesmo a proibir o ensino do Criacionismo em Ciência nalgumas universidades, como por exemplo nos Estados Unidos, já que o Criacionismo apela para a metafísica, a qual por definição está para além da capacidade de compreensão humana, enquanto que o Evolucionismo nega a Metafísica em Ciência e reclama-se defensor apenas do método científico acessível à compreensão da inteligência.
Ora, o Criacionismo e o Evolucionismo correspondem a concepções que não podem comparar-se por serem de natureza diferente: a primeira, metafísica, baseada na fé, a segunda, científica, baseada no raciocínio. E para solucionar esta questão, têm surgido tentativas de conciliação entre as duas, como é o caso do Evolucionismo-teísta, um Evolucionismo que contém e aceita Deus. E é a altura de voltarmos aos leitores.