- ...já devorei as folhas que me deixaste, avô, e não sei se percebi tudo.
- Se percebeste ou não o que quis dizer não é o essencial. O importante são as ideias, as dúvidas, tudo o que te vem à cabeça a partir do que suscita em ti o que eu disse ou não disse. Tudo o que cresce em ti ao ler-me, por que essa é a vibração criativa da tua sensibilidade e da tua inteligência.
- Isso é tudo muito bonito mas estarás de acordo, avô, que é um pouco confuso...
- O recém-nascido contém toda uma série de potencialidades e competências por desenvolver, jamais falará se não falarmos com ela, apesar de ter no seu código genético, potencialmente, a capacidade de amar e de falar. Tu próprio, já não te lembras, mas foi assim que nasceste para a vida.
- Só não percebo muito bem por que sou tão diferente do João e da Rita. Apesar de termos os três os mesmos pais e avós.
- Deixa-me dar-te um exemplo que tu conheces. Sempre gostaste muito da música de Natal Adeste Fidelis, que tu conheces bem, do nosso rei D. João IV. Aqui está um bom exemplo de um programa que está escrito na partitura, com as notas todas marcadas, mas de cada vez que tu a ouves é um Adeste Fidelis diferente, por que diferente é a sonoridade e a sensibilidade sempre que novos músicos lhe dão vida.
Uma partitura musical pode ser muito bela, como a voz do soprano e a sua capacidade técnica também, mas a alquimia dos sons sublimes só será consumada, como no amor, pelo desejo das pessoas. É o afecto que dá sentido a tudo.
E agora já podes contar a história do Adeste Fidelis aos teus amigos.
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