Bem-vindos


a este vosso novo Blog, tratem-no bem ou mal conforme merecer, mas por favor reajam, participem. Iniciá-lo-emos com a publicação de excertos de um manuscrito original já publicado na Zéfiro editora:

MEMÓRIAS DE UM PSICANALISTA
José Carlos DIAS CORDEIRO


Deixe-me dizer-lhe o que alguém me confidenciou:

... eu tenho tudo na vida mas falta-me a alegria e a paixão de viver.


que pedras terei de mover no tabuleiro do meu dia-a-dia para conseguir surpreender-me de novo, reconciliar-me comigo, com os outros e viver?


Esta é uma questão que o leitor aprenderá a responder. E fá-lo-á com a ajuda de um jovem fascinado pela vida e de seu avô, um psicanalista interessado em escutar palavras, silêncios, dúvidas que todos temos.

Este livro vive de duas experiências:

  • as memórias de um psicanalista

  • a volúpia, única, de pessoas como você conseguirem resgatar-se do fundo de si mesmas e renascerem para a VIDA.

09 julho 2009

18. ...Para que tudo continue na mesma



"Gymnopedie" de Erik Satie

“É preciso que alguma coisa mude para que tudo continue na mesma”, afirma Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957), em O Leopardo (1959), referindo-se aos movimentos reformistas contra a aristocracia do poder instaurado na Itália dos anos 60 do século XIX.
Trata-se de uma visão cínica exactamente contrária ao que se passa aqui. Mesmo quando o leitor, por vezes, se sente perdido, a ponto de não conseguir unir as pontas, pode, no mínimo, recorrer a uma imagem do mundo físico e perguntar-se: “Quais são as pedras que tenho que mover no tabuleiro da minha vida para recomeçar a ver a luz ao fundo do túnel?”

- Essa do Lampedusa, é mesmo desarmante, avô.

- O que ele queria dizer é que não há nada melhor do que fazer de conta que estamos de acordo para que nada mude e tudo continue na mesma.

- Isso tem alguma coisa a ver com a iliteracia18 de que se fala tanto hoje em dia?

- Pode comparar-se porque os iletrados lêem e ouvem as palavras correctamente mas não percebem o sentido da frase. O que Lampedusa pretendia era esvaziar e desactivar a insatisfação social dos movimentos populares, fazendo-lhes crer que estava de acordo em encontrar uma solução para os trabalhadores. O iletrado não é um analfabeto, mas é uma pessoa que quando lê um jornal, um livro ou um ponto de exame, lê as palavras mas não consegue perceber nada.

- Mas a iliteracia é uma doença ou não?

- Aí está uma boa questão. Se eu fosse o Lampedusa e quisesse evitar falar do problema de fundo, dir-te-ia que sim, que a iliteracia, é uma espécie de dislexia, na qual as pessoas trocam, por exemplo, o p pelo b. Deixaria as pessoas sossegadas por acreditarem nessa doença imaginária, não precisando de tentar ir ao fundo do problema. É que, como dizia um português suave19, “o povo é sereno”20, deixem-no sossegado.

- É de propósito ou estás a baralhar-me ainda mais, afinal é uma doença ou não?

- Depende, se fizermos como o Giuseppe di Lampedusa, que iludia a verdadeira solução dos problemas, podemos dizer que sim. Caso chames doença à miséria humana material e moral, ao obscurantismo, à exclusão social, então iliteracia é uma doença diferente, uma doença social.

Sabe que tudo na vida é interactivo e a pior atitude é o imobilismo, é não tentar. Quando um animal, por exemplo, o caracol, se sente ameaçado, imobiliza-se na sua casca, faz-se de morto. Animais mais diferenciados, como nós, avaliam rapidamente as suas possibilidades de vencer e, ou resolvem os problemas do dia-a-dia, ou evitam-nos e evoluem, adaptando-se.
É por isso que a imagem das pedras no tabuleiro da vida pode ajudar-nos a decidir qual ou quais as pedras, quais as atitudes ou comportamentos, que teremos de mudar para relançar em nós o movimento ganhador.

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