"Gymnopedie" de Erik Satie
“É preciso que alguma coisa mude para que tudo continue na mesma”, afirma Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957), em O Leopardo (1959), referindo-se aos movimentos reformistas contra a aristocracia do poder instaurado na Itália dos anos 60 do século XIX.
Trata-se de uma visão cínica exactamente contrária ao que se passa aqui. Mesmo quando o leitor, por vezes, se sente perdido, a ponto de não conseguir unir as pontas, pode, no mínimo, recorrer a uma imagem do mundo físico e perguntar-se: “Quais são as pedras que tenho que mover no tabuleiro da minha vida para recomeçar a ver a luz ao fundo do túnel?”
- Essa do Lampedusa, é mesmo desarmante, avô.
- O que ele queria dizer é que não há nada melhor do que fazer de conta que estamos de acordo para que nada mude e tudo continue na mesma.
- Isso tem alguma coisa a ver com a iliteracia18 de que se fala tanto hoje em dia?
- Pode comparar-se porque os iletrados lêem e ouvem as palavras correctamente mas não percebem o sentido da frase. O que Lampedusa pretendia era esvaziar e desactivar a insatisfação social dos movimentos populares, fazendo-lhes crer que estava de acordo em encontrar uma solução para os trabalhadores. O iletrado não é um analfabeto, mas é uma pessoa que quando lê um jornal, um livro ou um ponto de exame, lê as palavras mas não consegue perceber nada.
- Mas a iliteracia é uma doença ou não?
- Aí está uma boa questão. Se eu fosse o Lampedusa e quisesse evitar falar do problema de fundo, dir-te-ia que sim, que a iliteracia, é uma espécie de dislexia, na qual as pessoas trocam, por exemplo, o p pelo b. Deixaria as pessoas sossegadas por acreditarem nessa doença imaginária, não precisando de tentar ir ao fundo do problema. É que, como dizia um português suave19, “o povo é sereno”20, deixem-no sossegado.
- É de propósito ou estás a baralhar-me ainda mais, afinal é uma doença ou não?
- Depende, se fizermos como o Giuseppe di Lampedusa, que iludia a verdadeira solução dos problemas, podemos dizer que sim. Caso chames doença à miséria humana material e moral, ao obscurantismo, à exclusão social, então iliteracia é uma doença diferente, uma doença social.
Sabe que tudo na vida é interactivo e a pior atitude é o imobilismo, é não tentar. Quando um animal, por exemplo, o caracol, se sente ameaçado, imobiliza-se na sua casca, faz-se de morto. Animais mais diferenciados, como nós, avaliam rapidamente as suas possibilidades de vencer e, ou resolvem os problemas do dia-a-dia, ou evitam-nos e evoluem, adaptando-se.
É por isso que a imagem das pedras no tabuleiro da vida pode ajudar-nos a decidir qual ou quais as pedras, quais as atitudes ou comportamentos, que teremos de mudar para relançar em nós o movimento ganhador.
Trata-se de uma visão cínica exactamente contrária ao que se passa aqui. Mesmo quando o leitor, por vezes, se sente perdido, a ponto de não conseguir unir as pontas, pode, no mínimo, recorrer a uma imagem do mundo físico e perguntar-se: “Quais são as pedras que tenho que mover no tabuleiro da minha vida para recomeçar a ver a luz ao fundo do túnel?”
- Essa do Lampedusa, é mesmo desarmante, avô.
- O que ele queria dizer é que não há nada melhor do que fazer de conta que estamos de acordo para que nada mude e tudo continue na mesma.
- Isso tem alguma coisa a ver com a iliteracia18 de que se fala tanto hoje em dia?
- Pode comparar-se porque os iletrados lêem e ouvem as palavras correctamente mas não percebem o sentido da frase. O que Lampedusa pretendia era esvaziar e desactivar a insatisfação social dos movimentos populares, fazendo-lhes crer que estava de acordo em encontrar uma solução para os trabalhadores. O iletrado não é um analfabeto, mas é uma pessoa que quando lê um jornal, um livro ou um ponto de exame, lê as palavras mas não consegue perceber nada.
- Mas a iliteracia é uma doença ou não?
- Aí está uma boa questão. Se eu fosse o Lampedusa e quisesse evitar falar do problema de fundo, dir-te-ia que sim, que a iliteracia, é uma espécie de dislexia, na qual as pessoas trocam, por exemplo, o p pelo b. Deixaria as pessoas sossegadas por acreditarem nessa doença imaginária, não precisando de tentar ir ao fundo do problema. É que, como dizia um português suave19, “o povo é sereno”20, deixem-no sossegado.
- É de propósito ou estás a baralhar-me ainda mais, afinal é uma doença ou não?
- Depende, se fizermos como o Giuseppe di Lampedusa, que iludia a verdadeira solução dos problemas, podemos dizer que sim. Caso chames doença à miséria humana material e moral, ao obscurantismo, à exclusão social, então iliteracia é uma doença diferente, uma doença social.
Sabe que tudo na vida é interactivo e a pior atitude é o imobilismo, é não tentar. Quando um animal, por exemplo, o caracol, se sente ameaçado, imobiliza-se na sua casca, faz-se de morto. Animais mais diferenciados, como nós, avaliam rapidamente as suas possibilidades de vencer e, ou resolvem os problemas do dia-a-dia, ou evitam-nos e evoluem, adaptando-se.
É por isso que a imagem das pedras no tabuleiro da vida pode ajudar-nos a decidir qual ou quais as pedras, quais as atitudes ou comportamentos, que teremos de mudar para relançar em nós o movimento ganhador.
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