O leitor tem aqui oportunidade de revisitar as suas memórias emocionais. Conviver e gerir o seu espaço, tempo, a luz que o ilumina e conforta por dentro, lhe restaura as recordações.
Muito mais importante do que ler livros de psicologia é deixar-se viajar pelo mundo interior, aceitando a vida acontecer, descobrindo-se. Desde que me telefonou entrou numa gestação de si. Libertando-se de máscaras, fantasias de carnaval, roupagens que deixou colarem-lhe à pele, artefactos que pouco têm a ver com a sua verdadeira natureza. Como na Metamorfose do Kafka, Gregor, a certa altura, toma consciência de que se transformou, sem dar por isso, num subproduto de si próprio, um desprezível insecto. Sente-se horrivelmente desconfortável. Cai sobre o dorso, não consegue voltar-se, desesperadamente impotente. Face a esta caricatura de si, incapaz de se reencontrar, tolhido nos movimentos, pensamentos, sensibilidade, sem esperança nem futuro, a solução para Gregor é gritar: “não aceito no que me transformei, no que a vida me transformou, um homem de fato cinzento, um subproduto de mim.” A única forma de ele afirmar a sua independência é recusar a sociedade baça, cinzenta, sem rasgo nem frescura, recusar a palha que tem vindo a comer à mão de quem lhe paga.
Aqui, caro leitor, pode ver-se ao espelho, confrontar-se consigo e dizer se gosta ou não da sua imagem reflectida. Se não gosta, tem aqui um espaço e um tempo privilegiados para mover as pedras no tabuleiro da sua vida. Basta mover uma pequena pedra do sistema, para que todas as outras tenham que se adaptar ao movimento. Este gesto simples cria dinâmica, interacção com o mundo que o rodeia, em busca de um novo equilíbrio.
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