Ao revisitar as suas memórias recordando o bater das ondas do mar nas rochas, na casa da sua infância, está a conviver com o seu passado, cara leitora. Em busca do tempo perdido é a memória de um tempo que passou mas que dá todo o sentido à continuidade histórica do seu percurso. Mesmo que esbatidas, nunca perdemos a memória emocional de experiências passadas.
Não é bom viver no passado, mas estará de acordo que é essencial vivermos, também, do passado. Sem passado, sem memória, é como se não existíssemos. O que acontece é que o passado é feito de alegrias e tristezas, esperança e desalento. Nietzsche ensina-nos que, por mais doloroso que seja, não esquecemos o passado.
É confrontando-se com as suas memórias, re-situando-as nas circunstâncias e no tempo em que aconteceram, que poderá digerir o pão que o diabo amassou. Confrontando-se com as recordações, não renega o passado, mas pode, mesmo que lentamente, redimensioná-lo, distanciando-se e esvaziando as feridas do seu sofrimento. E, sobretudo, poderá perceber que, nas relações afectivas, não há vencedores nem vencidos, não há espólio a saquear, nem troféus a exibir. Tudo foi, é e será sempre, a mais sublime magia do melhor que temos em nós. Só assim poderá aprender com a experiência a libertar o amor que a move e os demónios que a perseguem.
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